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Trajetória


Estava em minha zona de conforto, nas sombras, porque era tudo mais fácil enquanto eu estava por lá, me escondendo, mostrando apenas o lado amargo, sem sentimentos. Eu não dava a cara pra bater, não arriscava outro coração partido, apenas ocultava a existência de um coração. Era divertido ser irônica quando alguém falava de relacionamento sério pra mim, eu apenas soltava um riso ácido e dizia: - tá, e daí?
Sabe, meu forte nesses 3 anos e meio nunca foi acreditar que algo daria certo, eu apenas via surgirem os “quases”, esperando a pessoa ir embora. Eu sabia que todo mundo um dia iria partir. Era aquele velho ciclo, de costume: Ele chega, bagunça tudo superficialmente ao meu redor, tenta ganhar meu coração, mas não se arrisca e eu desse lado também não. Ele vai embora, procurar algo melhor e eu fico, também na mesma procura, me perco no caminho, entre uma bebedeira e outra, enfrento os dias de ressaca, as vezes mais moral do que etílica. No dia seguinte reflito sobre como estou vazia, mas a vida continua e na cinza das horas, dias desses você veio, de um reino tão tão tão distante, não por minha causa (pelo menos não que saibamos), o fato é que a vida te trouxe e eu notei, mas no início é claro que pensei: “não é pra mim”. Quantas vezes as pessoas me fizeram tropeçar no seu nome, eu ria, você me atraía, mas não tinha fé em nada, eu apenas dizia que não sabia nada de você e desviava a atenção, afinal você já tinha tantas mulheres ao seu redor, com mais convívio do que eu, que sabiam jogar charme, sorrir, impor a presença. E eu aqui, no meu canto, com meus óculos, meu tênis e minha caneca de café. Eu não queria disputar sua atenção, apesar de querer provar seu gosto, quando via seus olhos, seus ombros largos e seu sorriso lindo e tímido. Naquela época eu estava ocupada tentando mostrar a outro alguém que eu não tinha sentimentos e o que tivemos não havia significado nada, eu não queria confusão... mal sabia eu que a confusão iria se instalar dentro de alguns dias.
Eis que você me procura, depois de uma conversa curta, com assuntos pouco relevantes, que eu comecei. Sabe, eu me empolguei no início, vi sua mensagem e pensei: “acho que me dei bem”, mas foi o lado do desejo gritando, era o carnal, pelo que você era externamente, o início do meu desconserto. E nos encontramos, da forma mais errada, imprudente e torta que existe, tanto que me fez pensar que, como tudo que havia me acontecido nos últimos anos, você logo desistiria, eu iria sumir. Cada um pra um lado e nada de frio na barriga...Foi o que estipulei a princípio, lembra? Nada de sentimentos envolvidos, nós não podemos. Eu não queria partir outro coração, meu karma já estava extenso, estava crente de que da minha parte não sairia nem sequer um apego.
E como a gente se engana na vida, não é?
Você não se foi. Você não só ficou, como também bateu o pé pra não me deixar sumir, eu tentei escapar por entre os vãos, mas no seu labirinto não existiam vãos. Eu comecei a me perder e a me conformar que talvez ficar não fosse tão ruim assim. Eu fiquei, fui ficando, meio desconfiada, na defensiva, com meu escudo na frente, com medo de ser atingida e você cativando certas coisas dentro de mim, que não me lembrava mais de como eram gostosas de se sentir. Eu parava pra pensar na nossa situação desfavorável e negava a mim mesma que pudesse nascer algo dali, mas estava nascendo, sem que pudéssemos controlar. Nós nunca tivemos o controle disso, apenas fomos deixando a felicidade tomar conta. E por vezes além da felicidade, experimentamos o gosto amargo do ciúme, da raiva e de como era explosiva aquela alegria de quando fazíamos as pazes. Em quase três meses, tudo o que você me fez sentir, ninguém havia feito nesses 3 anos. Ver você e sentir acelerar o coração, sorrir sozinha lembrando de alguma mensagem carinhosa que trocamos horas atrás, e o melhor era quando podia te tocar, me jogar nos seus braços imediatamente com toda aquele sede de você que a saudade deixava...
Essa foi a melhor guerra interna que já aconteceu em mim, você lutou pra me ganhar e me fazer feliz. Dia após dia, estou me entregando, pedacinho por pedacinho, cada dia mais. O que parecia perigoso, já parei de tentar evitar, pra mim não soa mais como risco, só vejo o risco de ser feliz e esse eu quero correr.
Eu costumava fantasiar meu futuro, hoje em dia não há imaginação em que você não esteja. E seja lá o que for isso, só sei que me faz sentir bem.
Hoje você subiu a torre e já divide meu reino comigo.

“Vai ficar por quanto tempo? Preparo o café ou preparo a vida?”

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