Pular para o conteúdo principal

Gratidão pelo adeus

Encontrei uma foto antiga e parte do meu passado me invadiu, de imediato. Várias memórias vieram, saudosas, nostalgia pura, não que eu quisesse viver novamente o passado, não que eu goste do que eu gostava antes, mas que o "eu" daquela época estaria feliz por viver ali. Ah sim, ela estaria. 
Dizem que você sempre está onde deveria estar. Então no passado eu estava exatamente onde precisava, se no presente mudei de lugar e de pessoas, é tudo exato, é tudo destino.
Hoje em dia me expandi, de forma irremediável e quando a gente se expande, não consegue mais voltar a forma inicial, isso criaria estrias no corpo do meu tempo. 
A vida é outra, a pessoa é outra, fui sendo só metamorfoses, desde o dia em que você decidiu partir. Embora sem piedade, preocupado com o maus-tratos que eu sofreria nas mãos do mundo, que não era nada amigável como você era comigo.
Hoje eu decidi retratar brevemente, esses quase três anos. Em junho completo 3 anos deste estado civil, quase o mesmo que fizemos de relacionamento, do início até o fim.
Lembro bem como se fosse hoje, naquele dia em que eu sairia do nosso quarto pra desbravar tudo sozinha, um mês depois do grande anúncio de "partida", que você comunicou dois dias depois do meu aniversário, ato que talvez tenha sido o mais corajoso de toda sua vida até então. 
Digo corajoso porque, na época achei egoísta mas hoje vejo que você tomou a melhor decisão pras nossas vidas, e só algum tempo depois consegui enxergar que você estava coberto de razão.
Havia se passado cerca de um mês do rompimento, era manhã de algum dia útil, eu sentada no chão, próxima ao pé da cama, arrumando algumas coisas, horas antes do meu último dia de trabalho, com minha primeira tatuagem recém feita na costela horas antes, fui surpreendida por você, se agachando pra iniciar uma conversa, olhos nos olhos.
Não me lembro da conversa inteira mas algumas partes consegui memorizar, você dizia: 
"-Hoje eu vejo a mulher que se tornou, não é mais aquela menina, hoje você é a mulher que eu sempre sonhei em ter pra mim. Cuidado com o mundo lá fora, as pessoas são cruéis, nem todo homem merecedor do que você tem aí dentro, eles vão brincar com seus sentimentos."
Me lembro de ter balbuciado algumas palavras com os olhos marejados. Tudo que ouvi eu já sabia mas não tinha dimensão, porém mal sabia você que sentimento era algo que eu já não tinha desde que me conscientizei do nosso fim.
Eu estava começando outro processo, iria pra outra vida, numa outra cidade, era o destino que eu não fazia idéia que estivesse traçado.
Hoje estou no "mundo lá fora", dando um duro danado pra conseguir amar alguém, num resgate infinito pelo frio na barriga, o que é a coisa mais controversa...como é que eu tanto quero um frio na barriga, se eu tenho tido intolerância a me relacionar?
Eu provei da felicidade mais intensa quando estávamos juntos e outra mais intensa ainda quando tinha apenas minha própria companhia, eu fiz tudo que eu quis, mas nada saiu de graça, eu também precisei lidar com o karma, que veio pesado. De fato não passei vontade, não passei vontade de nada, fiz tudo o que tinha direito, inclusive as tatuagens que você tanto detestava, hoje em dia sou um "gibi" - como diz minha mãe - e me amo assim. Eu não te amo mais, mas amo tanto o que você fez por mim, o penhasco que você me empurrou e as asas que fui obrigada a ter pra voar, pela necessidade de sobreviver. A beleza do adeus, os ensinamentos que a circunstância me trouxe, a mudança do meu ponto de vista, a minha independência. Você deu sentido a frase "a solidão é um presente", pra quem nem andava de ônibus dentro da cidade sozinha, agora até viajei pra fora do estado de avião somente com a minha própria companhia.
O amor foi grande sim e foi o mais lindo e louco que já existiu, mas não estava na hora de me prender, eu precisa botar a cara no mundo. 
Eu botei e hoje poderia escrever um livro, tudo que eu vi e vivi, cada apuro, cada fantasma, cada tombo, cada luta e eu valorizei cada capítulo, inclusive cada "quase amor" que pude viver, eu me diverti, fui dona de mim...eu apenas fiz jus a tal mulher que você queria admirar, mesmo você já não fazendo parte da minha vida, mesmo eu não carregando mais nenhum sentimento. Eu queria ser alguém a qual as pessoas gostariam de ter por perto, fora dos padrões, com personalidade e grandes opiniões, divertida, leve porém forte, feito absinto, causar medo aos que fossem fracos demais para aguentar e hoje, pasme, eu estou sozinha exatamente por esse motivo. Hoje eu luto pra ser cada dia melhor, fisicamente, psicologicamente, de todas as formas que eu puder, mas funciona como em uma empresa de médio porte, recebendo candidatos com qualificações boas demais para o pouco salário que estão oferecendo, eles não tem coragem de "contratar". O mundo está sendo formado de homens fracos e desinteressantes, que não gostam de mulheres desafiadoras e desobedientes, porque são difíceis de domar, porque batem de frente, se impõem. Eu também não deixo por menos, sou exigente, consciente do que mereço com base na construção de mim mesma por todos esses anos. Hoje já me amo tanto, que ficou difícil amar outra pessoa, é tanto amor próprio que não aceito nem mesmo erros iniciais, uma vez que fui decepcionada já faço desaparecer, parei de dar segundas chances porque valorizo meu tempo, o que pode parecer intolerância, mas foi isso que me tornei, desde que você se foi. 
Obrigada por ter mudado minha vida, e eu não estou sendo irônica. Se morresse hoje, morreria feliz porque você me deu uma experiência tão boa, um relacionamento feliz, um grande amor, mais que isso...você me deu uma linda volta por cima, o meu renascer, minha metamorfose, minha fase mais linda de aproveitar a mim mesma com intensidade impar.
Foi um amor de crescimento, terminou sem ressentimentos e foi um grande divisor de águas, um ensinamento.
Por hoje é só gratidão a você, minha maior revolução.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

E se...?

A vida é mesmo uma imensa estrada com várias bifurcações ao longo do caminho. Somos obrigados a todo momento a escolher e escolher significa renunciar. Estamos sempre renunciando de algo, ou seria escolhendo, optando por algo? Depende do ponto de vista. E essas escolhas por vezes tem toda poesia contida em si, ora não são nada poéticas. Chegamos a uma altura da vida, que pensar demais nas renúncias que fizemos, traz a tona uma imensa saudade. A famosa saudade do que ainda não vivemos, talvez o que nunca vamos chegar a viver, porque não pagamos pra ver. Não é uma saudade que dói, mas uma saudade que atiça a curiosidade, longe de arrependimento, por mais que a vida esteja funcionando bem no caminho em que estejamos andando, os pensamentos, as idealizações e a dúvida sempre vem. É uma saudade que não pode ser matada, esse caminho pode ainda estar ali e se apresentar de novo em nossa jornada, porém não estará exatamente como estava no passado, e digo isso me baseando na teoria de Herá

Elastic Heart

Conforme ia me inconformando com o mundo, ia criando um mundo pra mim, foi fundado com base em mim mesma e "fechado" até certo ponto, pois morria de medo de alguém que entrasse ali e poluísse, modificasse minhas leis, quisesse governar, derreter minhas geleiras com seu aquecimento global. Criei meu caos particular, detalhe por detalhe e ali me entendia, sempre que precisava me fechava, era ali que me sentia abraçada pela minha própria solidão, mas pessoas as vezes surgem, a maioria fracassava, não era capaz de aguentar a intensidade desse meu universo. Você veio estabelecer contato, propôr um tratado, parecia amigável, parecia ser como qualquer outro desbravador, mas a diferença é que eu nunca consegui dizer não, eu nunca consegui não querer, por mais que a fuga fosse normal, dessa vez a estratégia automática ruiu, caiu por terra, você veio estudando minuciosamente meus atos, meu passado, meus traumas, com um esforço realmente grande pra conseguir compreender meus pedaços. Eu

O grande anjo saqueador

Não pensem vocês, pequeno público deste blog, que vou falar de vícios altamente negativos de um anjo às avessas, primeiramente porque ele não é as avessas, pois cuida muito bem de sua destinada. Esse grande anjo, desprovido de asas, com grande potencial de saqueador, teve a capacidade de, ao mesmo tempo que cuidava, roubava-me um conjunto de sentimentos, os quais eu cuidadosamente sempre guardei pra que ninguém pegasse e quando descuidei, lá estava ele, zelando pelo meu bem e tomando nada mais, nada menos que um órgão vital, cheio dos já citados sentimentos e emoções. Como qualquer ladrão profissional e fazendo jus ao título de melhor anjo já caído na terra, contradisse seus atos e por alguma razão, sem nenhum dissabor, após algum tempo, entregou a mim tudo que possuía no quesito sentimental e nobre, tudo em se tratando de alma, corpo, coração, emoções, sentimentos e desejos. Você já deve estar se perguntando, o que foi que eu fiz diante disso tudo, de algo que começou como roubo, ma